BARES QUE PROMOVEM ENCONTROS CULTURAIS E RODADAS DE POESIA
João Wainer |
fome de saber
por Fernando Masini
Entre um gole e outro, a poesia virou opção de degustação para frequentadores dos bares da cidade que têm na agenda dias voltados para apresentação de poetas. Os saraus deixaram de ser encontros formais para animar noitadas de jovens artistas. Da pioneira Cooperifa, que acontece há oito anos no extremo da zona sul, a um reduto de violeiros na zona leste, essas noites culturais dão espaço a escritores amadores e mostram ao público como a poesia pode ser divertida.
E mais: levam cultura a quem não tem acesso. "Um dos méritos da Cooperifa foi transformar um bar em centro cultural", diz Sérgio Vaz, um dos fundadores do projeto. "A ideia não é criar um poeta melhor ou pior, mas estimular novos leitores." ARevista selecionou seis lugares onde prosa e verso fazem parte do cardápio.
bar do zé batidão
Tornou-se opção para os paulistanos que estão longe das atrações culturais do centro da cidade. A maioria do público vem da própria comunidade. O bar virou um bastião dos "sem palcos" ao promover encontros da Cooperifa, iniciativa dos poetas Sérgio Vaz e Marco Pezão. É sagrado: toda quarta, 200 pessoas se reúnem para ouvir e falar poesia. O microfone atrai todo tipo de gente: taxistas, desempregados, aposentados e escritores renomados como Ferréz e Mano Brown. A única regra é o silêncio. "Não tem clima de churrascaria, com todo mundo falando", explica Sérgio. Destaque para o escondidinho de carne-seca que sai aos montes da cozinha.
R. Bartolomeu dos Santos, 797, Jd. São Luís, tel. 5891-7403. Qua.: 21h.
núcleo bartolomeu de teatro
No palco que vira boteco, artistas amadores travam uma batalha de poesia em que o vencedor leva livros como prêmio. O formato é pioneiro no país. Veio da fórmula consagrada pelo poeta Marc Smith nos pubs de Chicago. O jogo, conhecido como "slam poetry", tem regras simples: os textos devem ser de autoria de quem declama, não podem durar mais do que três minutos, e não é permitido o uso de adereços e figurinos. A ideia é não desviar a atenção dos versos. É só chegar e se inscrever. E ter coragem para enfrentar um público barulhento, que vaia e aplaude com o mesmo pique. A maioria vai só para assistir e aproveitar a cerveja a R$ 2 e a porção de castanha com amendoim.
R. Dr. Augusto de Miranda, 786, Pompeia, tel. 3803-9396. Segunda qui. do mês: 19h.
villaggio café
O dono da casa e compositor Vlado Lima, 44, escolheu a sexta-feira para prestar tributo a poetas num encontro que parece o programa do Chacrinha. O participante se inscreve para declamar seu próprio texto ou para ler os escritos do poeta homenageado. São dois poemas por pessoa. O melhor da noite leva para casa brindes como CDs, camisetas e livros. O sarau "Sopa de Letrinhas" acontece há sete anos e já teve como convidados Zeca Baleiro e Zé Rodrix. Às segundas, o bar dá espaço para jovens compositores mostrarem suas canções com violão a tiracolo.
R. Teodoro Sampaio, 1.229, Pinheiros, tel. 3571-3730. Última sex. do mês: 21h30. Couvert: R$ 5.
bar do binho
O cantinho lota nas noites de segunda por conta do sarau do Binho e dos pastéis e panquecas com recheio em dobro. É o ponto de encontro do pessoal que sai da faculdade ao lado. Para quem se arrisca no minipalco, os versos devem ser entoados no gogó, sem microfone. A escolha dos poetas fica a cargo do mestre de cerimônias. Binho assegura que durante as apresentações, o silêncio é absoluto. Vale qualquer tema. Quando o espaço interno fica cheio, é comum as pessoas ocuparem as calçadas.
R. Avelino Lemos Junior, 60, Campo Limpo, tel. 5844-6521. Seg.: 21h.
mercearia são pedro
Tradicional ponto de encontro de escritores e agitadores culturais, o bar fica na movimentada Vila Madalena. Serve cerveja de casco e quitutes como pastéis e sanduíche de pernil. Nas suas prateleiras entulhadas, misturam-se sem catálogo fitas de filmes antigos, livros usados e garrafas de bebidas. Foi palco de lançamentos de livros e de uma exposição fotográfica durante a Balada Literária, evento organizado pelo escritor Marcelino Freire que acontece desde 2006. O mexicano Mario Bellatin, autor convidado da Flip deste ano, fez questão de conhecer o bar e festejar ali o lançamento de "Flores", livro publicado pela editora Cosac Naify.
R. Rodésia, 34, Vila Madalena, tel. 3815-7200. Seg. a sex.: 9h à 1h. Sáb.: 10h à 1h. Dom.: 11h às 18h.
bar do frango
Reduto de violeiros, o bar é tocado há 19 anos por Flávio Tavares, o Tatau. O lugar é apertadinho, cabem de 50 a 60 pessoas, e tem um cardápio baseado na cultura popular. Carne-seca e caldo de feijão com mandioca são os mais pedidos. No frio, Tatau serve chocolate com conhaque. Para esquentar a garganta, há 40 rótulos de cachaças. Domingo é o dia do sarau. Sobem ao palco poetas, grupos que improvisam esquetes de teatro e contadores de história, além de mestres da viola. A proposta, segundo Tatau, é levar a plateia para a linha de frente.
Av. São Lucas, 479, São Lucas, tel. 9411-0444 Último dom. do mês: 18h.
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