SLAM?!?


Mas que raios é SLAM?!?

Um Slam diz respeito basicamente a duas coisas: poesia + performance. Para se entender o Slam é preciso primeiro falar em spoken word.

Literalmente “palavra falada”, ou poeticamente “poesia falada”, o "spoken word" é uma performance na qual as pessoas recitam textos. Pode acontecer em vários contextos: literatura, artes plásticas, música, mas sempre com foco na oralidade.

Slams ou poetry slams são encontros de poesia onde há performances de “spoken word” geralmente em forma de competição. Criado por Marc Smith (Slampapi -so what?) em Chicago, nos anos 80, o Slam trouxe uma renovação para a poesia oral e valorizou a arte da performance poética, crescendo rapidamente e se propagando por todo mundo.
Estima-se hoje que existam pelo menos 500 comunidades de Slam em países como Irlanda, Inglaterra, Austrália, Zimbabwe, Madagascar, Israel, Singapura, Polônia, Itália e até mesmo no Pólo Sul, no Hawaí e agora no Brasil, sendo que as maiores comunidades fora dos EUA estão na França e na Alemanha.
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Poesia das, pelas e para as pessoas.

Por muito tempo pairou a idéia da poesia como algo circunscrito a círculos acadêmicos, ou pertencendo a um ou outro determinado grupo. A idéia do Slam, é democratizar a poesia e devolvê-la novamente às pessoas.

“Um Slam de poesia é poesia performática. É o casamento do texto com a habilidade de apresentá-lo no palco, com um público que tem a permissão (e talvez a responsabilidade) de participar" diz Marc Smith.

Slams podem acontecer em qualquer lugar, locais públicos, bares, cafés, salas de espetáculos, centros culturais, cinemas ou lugares inabituais como agências de correio, livrarias, escolas, hospitais, prisões ou mercados ao ar livre. Por todo o mundo, o Slam tem jogado fora as algemas que dizem quando e como a poesia deve ser apresentada, além de trazer de volta a prática da arte de ouvir, e da apreciação da riqueza da língua.

O Slam dá a voz a todos, com uma liberdade total de estilo, de gênero e de assunto abordado. Não há estrelas e o poeta no palco nunca deve ser mais importante do que o público que está lá para ouvir. Todos são benvindos e podem participar, a única condição é se inscrever com o apresentador e obedecer as regras, que basicamente são: os poemas e textos devem ser de autoria própria, ter no máximo 3 minutos e a performance deve ser feita sem figurinos, adereços, cenários ou acompanhamento musical.

Essas são as regras originais, mas elas variam de slam para slam, pois em cada lugar do mundo, as diferentes comunidades adaptam-no ao seu estilo. Existem por exemplo slams temáticos, onde a partir de um tema, todos os poetas fazem seus textos, slams de improviso, slam Musicais (música+poesia), slams só para mulheres, slams de dançarinos (alguns poetas recitam em cima de "beats", batidas, criadas por sapateadores, por exemplo), Cover Slams (os competidores declamam poesias de poetas célebres), slams Teatrais (com cenas).

Um júri formado por cinco pessoas, sorteadas ou escolhidas na hora pelo apresentador (host/mc) entre o público, atribui uma nota após cada poema numa escala de 0.0 a 10.0, podendo haver notas quebradas (por ex:7,8 ou 9,6...). Além do conteúdo do texto o júri deve estar atento a maneira como ele é apresentado.

O que os jurados julgam: forma + conteúdo, inspiração poética + performance.

A nota mais alta e a mais baixa são retiradas. Um assistente (no ZAP! o "Zapitágoras") faz as “médias” e as notas são marcadas em um quadro onde todos possam ver - quem faz isso no ZAP! é a nossa belíssima assistente patinadora - a "Xuxu".

Geralmente há três rodadas. Portanto quem quer participar do Slam deve levar 3 poemas diferentes. No ZAP!, todos os poetas participam da primeira rodada. As melhores notas participam da segunda e assim por diante até a terceira e última, quando é eleito o "Zapeão"da noite. As regras podem variar de um torneio a outro mas devem sempre se apoiar sobre esses princípios de base para garantir a coesão do Slam.

A premiação pelos Slams do mundo também varia, indo de prêmios simbólicos desde U$10, a grandes quantias nos grandes campeonatos nacionais. No ZAP o campeão da noite leva pra casa um prêmio cultural: livros, cds e dvds .
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História

Por toda a história da humanidade a poesia e as artes ligadas a oralidade foram essenciais para a preservação e celebração de todos os aspectos da condição humana. Poetas, contadores de histórias, trovadores contaram e recontaram sagas, feitos, crenças, desejos, tragédias e bem aventuranças de seus povos.

Desde Homero e sua Odisséia, os trovadores medievais, os griots africanos, o dub e toast jamaicanos, a embolada e o repente brasileiros, o ritmo e poesia do hip hop, apenas para citar alguns exemplos, inúmeras manifestações da poesia oral podem ser encontradas em todas as culturas ao longo dos tempos.

A retomada da poesia falada no final dos anos 80 e início dos anos 90, quando foi cunhado o termo "spoken word" e os slams começaram a se popularizar, tem precedentes e iniciativas próximas, como no fim dos anos 50 e começo dos 60 onde a poesia oral tem um momento de renovação através da "Geração Beat", como explica Lucas Moreira dos Santos em seu artigo "Beat Bat Bump! Bebop!Dig it?? Ensaiando com beatniks. A musicalidade jazzística de uma poética espontânea":

(...)Numa tentativa de resgatar a tradição oral da literatura e, ao mesmo tempo, de levar a poesia para além dos limites das universidades, bibliotecas e instituições que a tornavam sacra, os beats produziram uma literatura para ser recitada e ouvida, como música, e não para ficar restrita aos limites da folha de papel do livro empoeirado na estante. O costume de ler poesia em público cresceu muito nos Estados Unidos depois que esses poetas introduziram essa prática de grande valor social e de enorme potencial transformador, em razão de sua função coesiva. Nas comunidades arcaicas, os cantos sagrados eram expressões de encantamento, fusão afetiva com a comunidade, aleluia ou esconjuro, em resposta à necessidade de comunhão física e espiritual dos homens. Os saraus idealizados pelos beats também tinham essa função, propiciar o sentimento de comunhão do homem com os outros, consigo, com Deus, ao som do ritmo da palavra declamada. E esse ritmo, assim como o ritmo primitivo ou arcaico, concentra e realça os acentos da linguagem oral, livres e desregulares. O uso intensivo do ritmo da fala corresponde a uma forte carga de motivação orgânica e social, como era característico nos rituais antigos. A leitura de poesia em público nos ajuda a entender a grande repercussão e abalo social causado pela beat generation. Pensaram que era possível aprofundar a autonomia da arte e ao mesmo tempo reintegrá-la à vida, generalizar as experiências e transformá-las em fenômenos coletivos.
Sua poesia destinada aos ouvidos revela uma preocupação e trato especial à matéria audível de seus textos, o que os distingue dos escritores que não reconhecem o devido valor e importância desse constituinte sensível do sentido das palavras, o som. E mesmo na prosa, principalmente a de Kerouac, podemos notar o trabalho sobre a variação na altura, intensidade, tom duração e ritmo da fala, por meio do qual ele consegue construir trechos poeticamente jazzísticos(...)

Embora as ligações entre o spoken word e os slams com os poetas beatnicks sejam evidentes, há outras visões sobre suas raízes: "Muitos poetas, repórteres e críticos do slam, descrevem-no erroneamente como uma extensão da geração beat, mas suas raízes são mais similares a movimentos populares do fim dos anos 50 e começo dos 60, que lutavam para unir comunidades divergentes, e não para se excluir da sociedade e criar uma elite de "hipsters" como os primeiros beats fizeram. Os poemas de Amiri Baraka, Lawrence Ferlinghetti e até de Muhammad Ali, foram a vanguarda de uma nação em fluxo durante os radicais anos 60", diz Marc Smith em seu livro "Stage a Poetry Slam".

De fato no começo dos anos 70, artistas como Gill Scott Heron e Last Poets, trazem em sua poesia falada um discurso político e racializado em meio a luta pelos direitos civis americanos e são considerados precursores, "preparadores de terreno" para o desenvolvimento da cultura hip hop. Chega-se até a afirmar que estes artistas foram os primeiros a fazer o RAP (rhythm and poetry-ritmo e poesia) onde declamavam textos em cima de batidas de tambores, jazz e outros ritmos.

Nos anos 80 e 90 o spoken word se popularizou muitíssimo, e em grande parte isso se deve aos slams. Os primórdios do slam como é conhecido hoje remontam a o clube de jazz "Get Me High" em Chicago ,onde nas noites de segunda-feira Marc Kelly Smith apresentava uma noite experimental de poesia. No dia 20 de novembro de 1986, no "Green Mill Jazz Club" estrearia a noite onde pela primeira vez o termo "poetry slam" foi usado para denominar as noites de poesia performática e mais tarde as competições de poesia.

Em NY o Nuyorican Poets Café, que tem entre seus fundadores os poetas latinos Miguel Algarín e Miguel Piñero, foi um centro de artes e cultura que abrigou o primeiro slam da cidade em 1987, apresentado pelo controverso e enérgico Bob Holman que mais tarde fundaria o Bowery Poetry Club, onde até hoje há noites de slam as terças-feiras.

O slam se tornou nacional, com campeonatos (o primeiro National Poetry Slam acontece em 1990), poetas "slammers" gravando discos, programas de tv (como o "Def Poetry Jam" da HBO apresentado por Mos Def), filmes ("Slam", de 1997 com Saul Williams vencedor da camera d'or em Cannes e do grande prêmio do júri no Sundance Festival) e popularizou-se espalhando pelo mundo inteiro.
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Competição

Os Slams quase sempre são competitivos, mas nem sempre foram. Na França por exemplo é muito comum se chamar de Slam uma noite de declamação de poesias, mesmo que não haja competição.

"Um slam de poesia é um evento de poesia performática atual que geralmente culmina em uma batalha figurativa entre os slammers (poetas de slam). Nos elitistas muros da academia, alguns professores de literatura ridicularizam a noção de competições de performance de poesia. Eles parecem ignorar o fato que competições literárias tem uma história longa e honorável. Dioniso, o antigo Deus Grego da fertilidade, (também acreditado como inventor do vinho), observava seus extáticos adoradores enquanto eles bebiam sangue de animais e dançavam em orgiástico frenesi enquanto os poetas/dramaturgos Eurípedes e Sófocles, para nomear um par famoso, competiam pelo primeiro prêmio em festivais de competições patrocinados por cidadãos proeminentes." diz Marc Smith, (Slampapi so what? ) e conclui "(...)O concurso é um recurso quase teatral, não é feito para ser um teste final de uma performance ou texto. É um drama natural que no momento em que está acontecendo faz todos pensarem quem irá ganhar, quem vai ganhar a nota mais alta, quem vai faturar o prêmio. Meia hora depois a maioria das pessoas já esqueceram-se das notas, mas, felizmente, não dos poemas (...)"
Como tudo, a competição tem seus prós e contras.
No ZAP! ninguém é obrigado a competir, por isso mesmo fazemos o "Microfone Aberto" antes do Slam pra que todos (inclusive os que detestam participar de concursos e competições) possam participar. Mas, uma vez dentro do jogo é bom saber: regras são regras, e elas são iguais para todos!
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Público

Repetindo: Nenhum poeta no palco é mais importante que o público!
O público é a parte fundamental de um Slam. Sem ele nada faz sentido.
Ele tem direito gritar ,torcer, protestar, vaiar a notas, pois afinal é para ele que a poesia está sendo declamada.

Sem a participação do público definitivamente não há slam.

2 comentários:

Anônimo disse...

que legal! Slam! vivendo e aprendendo...

brejeirorapper disse...

É divertido pra cacete !!!!!!!
Eu sou Ivan de Oliveira
E tiro a maior onda lá com o público.

MC BREJEIRO DO CAJADO J HIP HOP na veia.
Um abraço.

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